BIOMAS DO BRASIL  - CERRADO

 

 Breve descrição

É a segunda maior formação vegetal brasileira. Estendia-se originalmente por uma área de 2 milhões de km², abrangendo dez estados do Brasil Central. Hoje, restam apenas 20% desse total.Típico de regiões tropicais, o cerrado apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal. A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua biodiversidade .

Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam ali. Essa riqueza biológica, porém, é seriamente afetada pela caça e pelo comércio ilegal.O cerrado é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros. A atividade garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia, também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir principalmente a partir da década de 80. Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.

 

Localização

 

        O Cerrado se localiza entre 3° e 24° de latitude sul e entre 41° e 63° de longitude oeste.

Extenção territorial

Sua extensão territorial abrange mais de 1.200 km de leste para oeste e mais de 1.000 km de norte a sul. Espalhando-se por 25% do território nacional, em 15 estados. É considerado o segundo maior bioma da América do Sul, concentrado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Em nosso país, ele ocupa cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados. Distingue-se pela biodiversidade surpreendente e pouco conhecida, apesar de já muito ameaçada abrangendo os estados de Goiás, Tocantins, Distrito Federal e parte da Bahia, Maranhão, Ceará, Piauí, Amapa, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo

 

Fauna (adaptação, evolução e extenção)

Fauna

Algumas Espécies da Fauna
Nome Científico   Nome Popular
  AVES (Classe)  
APODIFORMES (Ordem)    
APODIDAE (Família)    
Reinarda squamata (Espécie)   andorinhão
TROCHILIDAE    
Anthracothoraz nigricollis   beija-flor-de-papo-preto
Colibri serrirostris    beija-flor cantador 
Eupetomena macroura   beija-flor-tesoura
 
CAPRIMULGIFORMES    
CAPRIMULGIDAE    
Caprimulgus parvulus    curiango
Nyctidromus albicollis    curiango
NYCTIBIIDAE    
Nyctibius griseus   urutau
 
CHARADRIIFORMES    
CHARADRIIDAE    
Vanellus chilensis   quero-quero
 
CICONIIFORMES    
THRESKIORNITHIDAE    
Theristicus caudatus   curicaca
 
COLUMBIFORMES    
COLUMBIDAE    
Columbina minuta   rolinha
Columbina talpacoti   rola-caldo-de-feijão
Scardafella squammata   fogo-apagou
Zenaida auriculata   pomba-de-bando
 
CUCULIFORMES    
CUCULIDAE    
Crotophaga ani   anu-preto
Guira guira   anu-branco
 
FALCONIFORMES    
ACCIPITRIDAE    
Buteogallus meridionalis   gavião-caboclo
Polyborus plancus   caracará
CATHARTIDAE    
Cathartes aura   urubu-caçador
Cathartes burrovianus   urubu-de-cabeça-amarela
Coragyps atratus   urubu-preto
Sarcoramphus papa    urubu-rei
FALCONIDAE    
Milvago chimachima   gavião-pinhé
 
GRUIFORMES    
CARIAMIDAE    
Cariama cristata   seriema
 
PASSERIFORMES    
CORVIDAE    
Cyanocorax cristatellus   gralha-do-cerrado
DENDROCOLAPTIDAE    
Lepidocolaptes angustirostris   arapaçu-do-cerrado
FRINGILLIDAE    
Charitospiza eucosma   papa-capim-de-crista
Oryzoborus angolensis   curió
Oryzoborus crassirostris   bicudo
Passerina brissonii    azulão
Sicalis flaveola   canário-da-terra
Sporophila caerulescens    coleirinha
Volatinia jacarina    tisiu
FURNARIIDAE    
Furnarius rufus    joão-de-barro
HIRUNDINIDAE    
Notiochelidon cyanoleuca   andorinha
ICTERIDAE    
Gnorimopsar chopi   pássaro-preto
Molothrus bonariensis    chupim
MIMIDAE    
Mimus saturninus    sabiá-do-campo
TURDIDAE    
Turdus amaurochalinus   sabiapoca
Turdus rufiventris   sabiá-laranjeira
TYRANNIDAE    
Empidonomus varius   siriri
Pitangus sulphuratus   bem-te-vi
Tyrannus melancholicus   siriri
Tyrannus savana   tesourinha
 
PICIFORMES    
PICIDAE    
Colaptes campestris   chanchã
Leuconerpes candidus    pica-pau-branco
RAMPHASTIDAE    
Ramphastos toco   tucanuçu
 
PSITTACIFORMES    
PSITTACIDAE    
Amazona aestiva   papagaio-verdadeiro
Amazona xanthops    papagaio-galego
Ara ararauna   arara-canindé
Aratinga aurea   periquito-rei
Pionus menstruus   maitaca 
 
RHEIFORMES    
RHEIDAE    
Rhea americana    ema
 
STRIGIFORMES    
STRIGIDAE    
Speotyto cunicularia   coruja-buraqueira
 
TINAMIFORMES    
TINAMIDAE    
Crypturellus parvirostris   inhambu-xororó
Nothura maculosa   codorna
Rhynchotus rufescens   perdiz
 
MAMÍFEROS (Classe)
ARTIODACTYLA (Ordem)    
CERVIDAE (Família)    
Mazama americana (Espécie)    veado mateiro 
Mazama gouazoubira    catingueiro
Ozotoceros bezoarticus   veado-campeiro
TAYASSUIDAE    
Tayassu pecari    queixada
Tayassu tajacu   caitetu
 
CARNÍVORA    
CANIDAE    
Cerdocyon thous   cachorro-do-mato-comum
Chrysocyon brachyurus   lobo-guará
Speothos venaticus   cachorro-do-mato-vinagre 
FELIDAE    
Puma concolor    suçuarana
Herpailurus yagouaroundi    jaguarundi
Panthera onca   onça-pintada
MUSTELIDAE    
Conepatus semistriatus   cangambá, jaritataca
 
CHIROPTERA    
PHYLOSTOMIDAE    
Carolia perspicillata   morcego
Desmodus rotundus   vampiro comum 
 
EDENTATA    
DASYPODIDAE    
Dasypus novemcinctus   tatu-galinha
Euphractus sexcinctus   peba
Priodontes maximus   tatu-canastra
MYRMECOPHAGIDAE    
Myrmecophaga tridactyla   tamanduá-bandeira
Tamandua tetradactyla   tamanduá-mirim
 
LAGOMORPHA    
LEPOIDAE    
Sylvilagus brasiliensis    tapiti
 
MARSUPIALIA    
DIDELPHIDAE    
Didelphis albiventris   gambá
Monodelphis americana   musaranha
Philander opossum   cuíca
 
PERISSODACTYLA    
TAPIRIDAE    
Tapirus terrestris    anta
 
PRIMATES    
CALLITHRICHIDAE    
Callithrix penicillata   sagui
 
RODENTIA    
AGOUTIDAE    
Agouti paca   paca
CAVIIDAE    
Cavia aperea   preá
DASYPROCTIDAE    
Dasyprocta agouti   cutia
ERETHIZONTIDAE    
Chaetomys subspinosus   ouriço-caxeiro
Coendou prehensilis   coandu
 
RÉPTEIS (Classe)
CHELONIA (Ordem)    
TESTUDINIDAE(Família)     
Geochelone carbonaria (Espécie)   jabuti
 
SQUAMATA    
AMPHISBAENIA (Subordem)    
AMPHISBAENIDAE    
Amphisbaena alba   cobra-de-duas-cabeças
OPHIDIA (Subordem)     
BOIDAE    
Boa constrictor   jibóia
COLUBRIDAE    
Erythrolamprus aesculapii   falsa-coral
Spilotes pullatus    caninana
CROTALIDAE    
Bothrops alternatus   urutu-cruzeiro
Bothrops moojeni    jararaca
Bothrops itapetiningae   jararaquinha-do-cerrado
Bothrops neuwiedi   jararaca-de-rabo-branco
Crotalus durissus   cascavel
ELAPIDAE    
Micrurus frontalis   cobra-coral-venenosa
SAURIA ou LACERTILIA (Subordem)    
IGUANIDAE    
Tropidurus torquatus   calango
TEIIDAE    
Cnemidophorus ocellifer   calango
Tupinambis merianae   teiu

 

Adaptação

(Faltando incluir este ítem)

 

Evolução

Uma descoberta surpreendente traz novidades sobre a origem da fauna de répteis e anfíbios do cerrado. As espécies endêmicas da região são mais aparentadas com as espécies do Chaco (bioma do Paraguai, Bolívia e norte da Argentina) do que com as da caatinga, e podem ser alguns milhões de anos mais antigas do que se supunha.

O lagarto da espécie Kentropyx vanzoi , endêmico do cerrado,
teve um ancestral comum com espécies do mesmo gênero
endêmicas do Chaco e Pantanal (fotos: Guarino Colli)


As revelações foram feitas em um estudo realizado pelo Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) e apresentado no 15o Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em fevereiro nessa instituição. As descobertas devem provocar mudanças na compreensão do processo de evolução da herpetofauna do cerrado (que inclui répteis e anfíbios).
Acreditava-se até então que a diferenciação das espécies do cerrado tivesse ocorrido há menos de 45 mil anos. O coordenador da pesquisa, professor Guarino Colli, disse à CH On-line que a diferenciação se deu muito antes disso. "Os indícios encontrados apontam que a maioria das espécies modernas se originou no período Terciário, compreendido entre 65 milhões e 1,7 milhão de anos atrás."
Segundo ele, eventos climáticos e geológicos tiveram papel fundamental no aparecimento dessas espécies. "Espécies que habitavam uma extensa área do sul ao nordeste da América do Sul começaram a se diferenciar, devido a variações climáticas ocorridas já no início do período. A formação de paisagens florestais úmidas e de paisagens abertas e secas criaram condições distintas em que novas espécies se desenvolveram", explica.

Outro evento de importância fundamental para a diferenciação das espécies do cerrado foi o soerguimento do Planalto Central, ocorrido há cerca de 5 milhões de anos. "O cerrado e o Chaco (paisagens abertas) faziam parte de uma mesma região. Ao se separarem, as espécies seguiram processos de diferenciação únicos, ainda sob influência de transformações climáticas posteriores."
Para chegar a essa conclusão, Colli e sua equipe reuniram dados que possibilitaram a construção de árvores genealógicas envolvendo espécies endêmicas do cerrado. "Desde 1986 trabalhamos com análises morfológicas (referentes às características estruturais dos animais) e com o seqüenciamento genético de espécies do Cerrado. Ao cruzarmos essas informações com a distribuição geográfica das espécies, foi possível estabelecer as relações de parentesco entre elas e identificar suas origens".
O pesquisador cita o exemplo de lagartos do gênero Kentropyx , com espécies endêmicas do cerrado, Chaco e Pantanal. Kentropyx paulensis e K. vanzoi (do Cerrado) e K. viridistriga (do Chaco e Pantanal) teriam um ancestral comum que se diferenciou nas espécies após o soerguimento do Planalto Central.
Além de recontar a história da evolução da herpetofauna do cerrado, o estudo da UnB tem ainda grande importância ecológica: "agregamos valor a essas espécies, pois descobrimos que o patrimônio genético delas é muito mais antigo do que se pensava", comemora Colli.

 

Extinção

O Cerrado é um dos principais biomas brasileiro, e o mesmo abrange grande parte do território do país, sua maior concentração encontra-se na região Centro Oeste. O Cerrado é um bioma que apresenta riqueza tanto em sua fauna, quanto na sua flora, além de apresentar um grande potencial hídrico.

Pesquisadores relatam que cerca de aproximadamente 837 espécies de aves, 180 espécies de répteis, 197 espécies de mamíferos, 113 espécies de anfíbios, além de uma grande diversificação de insetos tenham sido identificados no bioma do Cerrado. E os mesmos relatam que várias espécies de plantas e de animais ainda não tenham sido catalogadas.

Algumas ações do ser humano, veem notoriamente ocasionando/contribuindo no aumento do número de espécies ameaçadas de extinção, não só no Cerrado, más também em outros biomas. Entre essas ações do ser humano que contribuem para o aumento do número de espécies de animais ameaçados de extinção, destacam-se as seguintes: caça ilegal, contrabando de espécies, queimadas e desmatamento ilegais (afetam e destroem o habitat natural dos animais) dentre outros. Veja a seguir um guia contendo informações sobre algumas das espécies de animais típicas do Cerrado que estão em risco de extinção.

Guia de espécies de animais típicas do Cerrado que estão em risco de extinção:

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Anta

Classificação Científica:
Nome Popular: Anta
Nome Cientifico: Tapirus terrestris
Familia: Tapiridae
Ordem: Perissodactyla
Peso: Cerca de até 250 kg
Comprimento:
Fêmeas até 2,20 m
Machos até 2,00 m
Altura: Pode chegar a atingir até 1,10 m
Gestação: O período gestacional pode chegar a durar cerca de 335 a 439 dias
Número de filhotes: 1
Alimentação: Frutos, grama, folhas, plantas aquáticas, brotos e cascas de árvore
.

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Capivara

Classificação Científica:
Nome Popular: Capivara
Nome Cientifico: H. hydrochaeris
Família: Hydrochoeridae
Ordem: Rodentia
Reino: Animalia
Classe: Mammalia
Filo: Chordata
Subordem: Hystricognathi
Género: Hydrochoerus

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Onça-pintada

Classificação Científica:
Nome Popular: Onça-pintada
Nome científico: Panthera onca
Família: Felidae
Ordem: Carnivora
Reino: Animalia
Classe: Mammalia
Filo: Chordata
Género: Panthera
Coloração da pelagem: Mesclada de amarelo, branco e preto
Altura: Cerca de aproximadamente 80 cm

Animais do Cerrado em Extinção
Nomes Popular: Tatu-canastra

Classificação Científica:
Nome científico: Priodontes giganteus
Nomes populares: Tatu-canastra, tatu-carreta ou tatu-açu
Peso: O tatu-canastra adulto pode chegar a pesar cerca de aproximadamente 60kg

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Tatu-bola

Classificação Científica:
Nome Científico: Tolypeutes tricinctus
Nome Popular: Tatu-bola
Comprimento: O tatu-bola mede cerca de aproximadamente 50 centímetros
Alimentação: cupins, artrópodes, formigas, frutos, larvas de insetos e ovos de pequenos répteis.

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Lontra

Classificação Científica:
Ordem: Carnívora
Nome Vientífico: Lontra longicaudis
Nome Popular: Lontra
Família: Mustelidae
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Hábitos alimentares: Carnívora
Habitat: Rios e Lagos

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Tamanduá-bandeira

Classificação Científica:
Nome Científico: Myrmecophaga tridactyla.
Nome Popular: Tamanduá-bandeira
Família: Myrmecophagidae
Hábitos alimentares: Insetívoro

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Veado-campeiro

Classificação Científica:
Nome científico: Ozotocerus bezoarticus
Nome Popular: Veado-campeiro
Classe: Mammalia
Família: Cervidae
Ordem: Artiodactyla

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Cobra Cascavel

Classificação Científica:
Nome Cientifico: Crotalus durissus
Nome Popular: Cobra Cascavel
Família: Viperidae
Filo: Chordata
Reino: Animalia
Ordem: Squamata
Classe: Reptilia

Animais do Cerrado em Extinção
Nome Popular: Cobra Coral Verdadeira

Classificação Científica:
Nome cientifico: Micrurus corallinus
Nome Popular: Cobra Coral Verdadeira
Família: Elapidae
Ordem: Serpentes
Filo: Chordata
Reino: Animalia
Classe: Reptilia

Além dessas espécies, algumas outras também correm risco de extinção no Cerrado, sendo elas:

  • Queixada
  • Lobo-guará
  • Paca
  • Jaguatirica
  • Cateto
  • Gambá
  • Onça-parda
  • Preá
  • Teiú
  • Cachorro-do-mato
  • Calango
  • Preguiça
  • Cobra-cipó
  • Sauá
  • Jiboia
  • Guariba
  • Cobra-coral falsa
  • Jararaca
  • Urutu

 

Flora (adaptação, evolução e extenção), plantas medicinais (finalidade) e plantas ornamentais

Se bem que ainda incompletamente conhecida, a flora do Cerrado é riquíssima.Tomando uma atitude conservadora, poderíamos estimar a flora do bioma do cerrado como sendo constituída por cerca de 3.000 espécies, sendo 1.000 delas do estrato arbóreo-arbustivo e 2.000 do herbáceo-subarbustivo. Como famílias de maior expressão destacamos as Leguminosas (Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpiniaceae), entre as lenhosas, e as Gramíneas (Poaceae) e Compostas (Asteraceae), entre as herbáceas.

 

Adaptação

 

 
 
Foto: Lindomar G. F. Filha - Lixeira (Curatella americana/Família Dilleniaceae)
 

Os troncos das plantas lenhosas em geral possuem cascas com cortiça grossa, fendida ou sulcada, e as gemas apicais de muitas espécies são protegidas por densa pilosidade. As folhas em geral são rígidas e coriáceas. Esses caracteres fornecem aspectos de adaptação à condições de seca (xeromorfismo). Todavia é bem relatado na literatura que as plantas arbóreas não sofrem restrição hídrica durante a estação seca (Goodland e Ferri, 1979), pelo menos os indivíduos de espécies que possuem raízes profundas (Ferri, 1974), embora o assunto ainda seja controverso (Alvim, 1996).
 

Foto: Lindomar G. F. Filha

As planta lenhosas do Cerrado Típico com caule grosso (aproximadamente 2 cm ou mais de diâmetro na base) são, na maior parte, torcidos, isto é, têm numerosas dobras. A nova direção do eixo depois de uma dobra é em ângulo largo em relação à direção anterior. Isto dá uma aparência tortuosa à vegetação. A razão destas dobras é que cada nova direção é um novo ramo de ordem superior; os troncos e galhos são eixos simpodiais. Mesmo quando não são particularmente torcidos, os troncos são freqüentemente inclinados ou, às vezes, paralelo ao chão antes de virarem a ponta para cima (Eiten, 1993).

 

Evolução

Cerrado, em foto de arquivo

Agrupar fácil reconhecimento parece, inicialmente, uma tarefa simples. Entretanto, os critérios, as observações subjetivas, as escalas e outras variáveis consideradas no método de classificação adotado dificultam que um mesmo padrão possa emergir nos diferentes sistemas propostos por distintos autores. Embora certa uniformidade na conceituação e na terminologia seja desejada, é muito difícil que um modelo universal defina ou represente fielmente uma tipologia vegetacional, uma vez que as paisagens apresentam variações e particularidades locais e regionais. Além disso, influenciam sobremaneira no produto final da classificação, o tamanho da área, a escala e a ordem hierárquica dos critérios e conceitos utilizados na separação das categorias.

Para a savana não é diferente. Talvez, de todos os tipos de vegetação, a savana seja a mais difícil de definir, pois sua distribuição e origem são controversas, já dizia em 1960 a geobotânica Mônica Mary Cole. A definição de savana e a evolução histórica deste termo são polêmicas e têm sido frequentemente colocadas em pauta nos vários fóruns de discussões acadêmicas ao longo das últimas décadas. Apesar de bastante debatido, o assunto ainda desperta controvérsias em função do alto número de interpretações. Na literatura científica, são encontradas mais de duas centenas de termos técnicos relacionados à palavra savana. Esse elevado número está associado à grande quantidade de tipologias vegetacionais classificadas como savana.

Escrever em poucas páginas sobre um assunto tão extenso não é fácil. A intenção apresentada aqui é oferecer uma visão geral das principais linhas de pensamento e pontos de divergências, bem como apresentar a contribuição de alguns atores envolvidos na árdua empreitada de ordenar conceitos, visões e impressões sobre as savanas do nosso planeta. Como a literatura aponta, embora essa discussão conceitual possa parecer inócua, ela tem implicações práticas diretas, pois dependendo do conceito adotado, a distribuição geográfica, a extensão da savana no mundo e a quantificação da biodiversidade muda drasticamente, refletindo nas políticas e estratégias para sua conservação.

Historicamente, a evolução do conceito está associada aos critérios usados na definição e/ou na classificação das savanas no mundo. Grande parte das definições de savana disponíveis na literatura inclui aspectos fisionômicos, climáticos (estacionais), latitudinais, geográficos, florísticos e ecológicos (por exemplo: competição e fogo), além de sugerir o importante papel do tempo geológico. Entretanto, existem variações no peso dos critérios usados em cada um dos diferentes sistemas de classificação, culminando, conseqüentemente, nas diferenças terminológicas.

De acordo com Cole, o termo savana é ameríndio (nativo do continente americano) e foi citado pela primeira vez, em 1535, pelo historiador e escritor espanhol Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés em um trabalho nas Índias, para descrever “terra que está sem árvores, mas com muita erva alta e baixa” (Cole, 1986).

 

Extinção


As queimadas provocadas pelo homem contribuem para a extinção do cerrado

O cerrado é um dos principais biomas do país, ocupa cerca de 22% de todo o território, mas sofre com a ameaça constante de extinção, essa previsão pessimista é proveniente do atual quadro ambiental em que se encontra o cerrado, no qual, aproximadamente 80% da biodiversidade já sofreu alterações na fauna e flora, em Goiás a situação é mais agravante pois estimativas revelam que cerca de 90% de todo bioma já se encontra alterado.

Em Goiás, os parques de preservação representam apenas 1% de todo cerrado goiano, enquanto que em outros estados a média é de 2,5%, esses dados estão muito abaixo das metas internacionais que é de 10%, esse percentual deveria ser revertido em reservas ambientais em Goiás.

Por várias décadas o cerrado foi visto como impróprio à ocupação agropecuária, portanto inviável economicamente, tal pensamento era devido às características de solo, muito ácido por causa da alta concentração de hidróxido de alumínio e o tipo de vegetação, de árvores baixas e arbustos.


Porém, mais tarde, por volta da década de 70, a intensa mecanização e modernização do campo e a introdução de culturas destinadas à exportação (as monoculturas) provocou uma intensa modificação no espaço geográfico do cerrado.

Segundo dados da WWF (World Wide Foundation), cerca de 60% do cerrado goiano já foi retirado, dando lugar a pastagens, 6% foram destinados à agricultura, 14% destinados à ocupação urbana e construção de estradas, somente 19% de cerrado se encontra conservados. A devastação ambiental no cerrado por falta de manejo florestal e outras medidas desenvolvem a preocupação do risco de a recomposição se tornar irreversível.


O que deve ser feito na região é a realização da aplicação de medidas de preservação e conservação, repensando o modelo de desenvolvimento e criando políticas econômicas que conciliam prosperidade, crescimento financeiro e preservação (desenvolvimento sustentável).

A ação antrópica é o agente modificador das paisagens do cerrado, a constante destruição do bioma provoca a extinção de animais, plantas e crescimento do número de erosões. A principal ação é a agricultura que a cada ano abre mais áreas de cultivo, retirando a cobertura do cerrado, eliminando aos poucos o bioma.


O cerrado é um bioma extremamente rico em fauna, flora, além de apresentar potencial hídrico, muitas espécies de animais e plantas ainda não são conhecidas ou não foram catalogadas, no entanto, sabe-se que são identificadas 837 espécies de aves, 197 de mamíferos, 180 de répteis, 113 de anfíbios e uma infinidade de insetos diferentes. O cerrado também é divisor de águas, possui uma grande quantidade de água de superfície e subterrânea.

 

Plantas Medicinais (finalidade)

Os benefícios das chamadas “drogas vegetais” passam de geração em geração. Quase todo mundo já ouviu falar de alguma planta, folha, casca, raiz ou flor que ajuda a aliviar os sintomas de um resfriado ou mal-estar. Unindo ciência e tradição, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer popularizar esse conhecimento, esclarecendo quando e como as drogas vegetais devem ser usadas para se alcançar efeitos benéficos. A medida faz parte da RDC 10, publicada nesta quarta-feira (10).
“O alho é um famoso expectorante e muita gente tem o hábito de usá-lo com água fervente. No entanto, para aproveitar melhor as propriedades terapêuticas, o ideal é deixá-lo macerar, ou seja, descansar em água à temperatura ambiente”, explica a coordenadora de fitoterápicos da Anvisa, Ana Cecília Carvalho.
Inaladas, ingeridas, usadas em gargarejos ou em banhos de assento, as drogas vegetais têm formas específicas de uso e a ação terapêutica é totalmente influenciada pela forma de preparo. Algumas possuem substâncias que se degradam em altas temperaturas e por isso devem ser maceradas. Já as cascas, raízes, caules, sementes e alguns tipos de folhas devem ser preparados em água quente. Frutos, flores e grande parte das folhas devem ser preparadas por meio de infusão, caso em que se joga água fervente sobre o produto, tampando e aguardando um tempo determinado para a ingestão.
Outra novidade da resolução diz respeito à segurança: a partir de agora as empresas vão precisar notificar (informar) à Agência sobre a fabricação, importação e comercialização dessas drogas vegetais no mínimo de cinco em cinco anos. Os produtos também vão passar por testes que garantam que eles estão livres de microrganismos como bactérias e sujidades, além da qualidade e da identidade.
Além disso, os locais de produção deverão cumprir as Boas Práticas de Fabricação, para evitar que ocorra, por exemplo, contaminação durante o processo que vai da coleta, na natureza, até a embalagem para venda. As embalagens dos produtos deverão conter, dentre outras informações, o nome, CNPJ e endereço do fabricante, número do lote, datas de fabricação e validade, alegações terapêuticas comprovadas com base no uso tradicional, precauções e contra indicações de uso, além de advertências específicas para cada caso.
Drogas vegetais e fitoterápicos
As drogas vegetais não podem ser confundidas com os medicamentos fitoterápicos. Ambos são obtidos de plantas medicinais, porém elaborados de forma diferenciada. Enquanto as drogas vegetais são constituídas da planta seca, inteira ou rasurada (partida em pedaços menores) utilizadas na preparação dos populares “chás”, os medicamentos fitoterápicos são produtos tecnicamente mais elaborados, apresentados na forma final de uso (comprimidos, cápsulas e xaropes).
Todas as drogas vegetais aprovadas na norma são para o alívio de sintomas de doenças de baixa gravidade, porém, devem ser rigorosamente seguidos os cuidados apresentados na embalagem desses produtos, de modo que o uso seja correto e não leve a problemas de saúde, como reações adversas ou mesmo toxicidade

Copaíba
Nome Copaíba "Copaifera longsdorffii!
Nomes populares: Copaíba, Pua-de-óleo, Capaúba

Características morfológicas :
Altura de 5 a 15m, tronco de 20 a 60 cm de diâmetro
Ocorrência:
Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato grosso, mato grosso do Sul, maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio grande do Norte, Rondônia, Tocantins e distrito federal.

Madeira:
Densidade moderada (0,64g/cm³ a 0,86g/cm³ ), superfície lisa ao tato e lustrosa, textura média e uniforme, com grã direita ou irregular, sujeita a empenamentos e com forte tendência ao rachamento, durável e de alta resistência ao ataque de organismos xilófagos.
Utilidade:
Madeira indicada para construção, civil, como vigas, caibros, ripas, batentes de portas e janelas, para confecção de moveis e peças torneadas, cabo de ferramenta e vassoura, para carroçarias. Fornece o bálsamo ou óleo de Copaíba, um liquido transparente e terapêutico, usado também como combustível.
Fenologia:
Floresce de dezembro a julho, dependendo da região.
Os frutos amadurecem de junho a outubro conforme a região, com a planta quase despida da folhagem.
Fonte: Clube da Semente do Brasil
Texto: Carvalho, P.E.R. Espécies arbóreas Brasileiras.
Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
p. 397-404. Vol. 1.

 

 

O óleo da Copaíba é transparente, de um branco tirante a amarelo e de um cheiro ativo, constitui excelente balsâmico anti-séptico do aparelho urinário. É um poderoso remédio das blenorragias agudas e crônicas, debelando-as com relativa facilidade depois de pouco tempo de uso. Indica-se também contra hemorragias, tosses e bronquites, doenças de origem sifilítica, moléstias de pele, incontinência das urinas, catarro da bexiga, leucorréia, diarréia, disenteria e urticária.

 

 

 

 

 


A sucupira-preta é uma árvore rústica e nativa do cerrado, que possui troncos reticulados de coloração cinza ou castanho. As folhas são compostas, imparipinadas, possuem de 9 a 21 folíolos alternos ou opostos, de coloração verde, margens inteiras e de superfície abaxial pilosa. As flores possuem cinco pétalas rugosas de coloração roxa ou lilás, sendo que duas pétalas são fundidas no estandarte. Os frutos são secos e achatados e possuem várias sementes de cor bege.
Sua floração ocorre de maio a setembro e sua frutificação de agosto a dezembro, seu principal polinizador são as abelhas grandes e a dispersão dos frutos é feita pelo vento. É uma árvore encontrada no DF e nos estados AC, AP, AM, BA, CE, GO, MG, MT, MS, PA, PE, PI, RJ, RO, RR, SP e TO.
A sucupira-preta é muito utilizada para o paisagismo, pela arquitetura e bela floração e para a recuperação de áreas degradadas. Sua madeira é de ampla utilização. É uma árvore melífera. Na medicina popular, a casca da raiz é usada para diabetes e as sementes para sífilis, gota, reumatismo, febres, dermatoses e artrites.

 

Plantas ornamentais

Não há quem visite uma região de Cerrado nativo sem ficar impressionado com a beleza de suas flores. Elas surgem em todos os lugares, na vegetação rasteira, nas plantas herbáceas, nos arbustos e nas árvores. Umas encantam pela delicadeza, outras pela exuberância. Mas todas recebem o olhar admirado de quem as vê. É por isso que pesquisadores estão interessados em desenvolver o cultivo de algumas espécies com grande potencial ornamental.
“Quem vê um Paepalanthus, quer coletar e levar para casa”, afirma a agrônoma Marilda da Conceição Ribeiro e Barros, pesquisadora do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), da Universidade Católica de Goiás. Ela cultiva experimentalmente a espécie Paepalanthus speciosus, conhecida popularmente como chuveirinho, e garante que a reprodução por sementes é viável. Ela conta ter levado um ano até descobrir o ponto de germinação da semente. A partir da descoberta, a reprodução certamente ficou mais fácil e pode, um dia, ganhar escala comercial.
Além do chuveirinho, a canela-de-ema (Vellozia flavicans) também já é cultivada com sucesso. Neste caso, o problema não é a germinação, mas o crescimento. “É difícil esperá-la crescer”, reconhece Marilda. Ela diz, entretanto, que muitas outras espécies nativas do Cerrado podem ter uso ornamental e gerar emprego e renda.
As sempre-vivas são as mais utilizadas. Elas são flores que mantêm suas principais características, inclusive a beleza, depois de colhidas. As várias espécies _ o chuveirinho é uma delas _ são comercializadas como as autênticas “flores do Cerrado”. A maior parte, entretanto, não é resultado de cultivos; são extraídas de áreas ainda preservadas de Cerrado.

Espécies identificadas
A bióloga Ana Palmira Silva, co-autora do livro Flores e Frutos do Cerrado, informa que já foram identificadas 6.062 espécies de plantas que produzem flores neste bioma, que é o segundo maior do País, perdendo apenas para a Floresta Amazônica. Segundo ela, é no estrato rasteiro e nas formações campestres de Cerrado (campo limpo, campo sujo, campo rupestre) que se encontra a maior parte das plantas ornamentais comercializadas como “flores do Cerrado”.
Ela lembra que algumas espécies do Cerrado há muito tempo já são cultivadas para fins ornamentais e utilizadas em projetos paisagísticos. As orquídeas e as bromélias são exemplos. Ana Palmira também cita a utilização crescente da canela-de-ema e o potencial da quaresminha _ um arbusto que produz uma delicada flor cor-de-rosa _ e das trepadeiras nativas. Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) identificaram 34 espécies de trepadeiras ornamentais do Cerrado.
A bióloga Marilda Ribeiro diz que entre os objetivos das pesquisas está o cultivo dessas plantas nativas com grande potencial ornamental. “Falta no Brasil e em Goiás um órgão para tratar da pesquisa e do cultivo desse acervo. As pesquisas são isoladas e não caem num banco de dados para gerar protocolos de cultivo”, reclama. Segundo ela, a maioria não é explorada nem mesmo na forma extrativista.
Um grande número de flores produzidas por plantas do Cerrado, entretanto, não podem ser exploradas comercialmente. São flores de gramíneas, de árvores ou arbustos que não sobreviveriam à coleta (ou colheita). Para essas sobreviverem e encantarem, apela Marilda, é preciso haver áreas preservadas de Cerrado.

 

Principais impactos ambientais sofridos

A expansão agropecuária, os garimpos, a construção de rodovias e cidades como Brasília e Goiânia, são os principais aspectos provocados pela ação humana, que reduziram esse ecossistema a pequenas manchas distribuídas por alguns estados brasileiros.

Intencionalmente deixamos para discutir por último este fator, de extraordinária importância para o Bioma do Cerrado, seja pelos múltiplos e diversificados efeitos ecológicos que exerce, seja por ser ele uma excelente ferramenta para o manejo de áreas de Cerrado, com objetivos conservacionistas. "Mas"... o leitor diria intrigado: "como conservar, ateando fogo ao Cerrado?". A resposta é simples: proteção total e absoluta contra o fogo no Cerrado é uma utopia, é extremamente difícil. O acúmulo anual de biomassa seca, de palha, acaba criando condições tão favoráveis à queima que qualquer descuido com o uso do fogo, ou a queda de raios no início da estação chuvosa, acabam por produzir incêndios tremendamente desastrosos para o ecossistema como um todo, impossíveis de serem controlados pelo homem. Neste caso é preferível prevenir tais incêndios, realizando queimadas programadas, em áreas limitadas e sucessivas, cujos efeitos poderão ser até mesmo benéficos. Tudo depende de sabermos manejar o fogo adeqüadamente, levando em conta uma série de fatores, como os objetivos do manejo, a direção do vento, as condições de umidade e temperatura do ar, a umidade da palha combustível e do solo, a época do ano, a freqüência das queimadas etc. É assim que se faz em outros biomas savânicos, semelhantes aos nossos Cerrados, de países como África do Sul, Austrália, onde a cultura ecológica é mais científica e menos emocional do que a nossa.

"Mas..." diria ainda o leitor: "... e quando o homem não estava presente em tais regiões, no passado remoto, incêndios desastrosos também não ocorriam em conseqüência dos raios? Não seria melhor deixar queimar, então, naturalmente?". Grandes incêndios certamente ocorriam, só que não eram desastrosos. Não existiam cercas de arame farpado prendendo os animais. Eles podiam fugir livremente do fogo, para as regiões vizinhas. Por outro lado, áreas eventualmente dizimadas pelo fogo podiam ser repovoadas pelas populações adjacentes. Hoje é diferente. Além das cercas, a vizinhança de um Parque Nacional ou qualquer outra unidade de conservação, é formada por fazendas, onde a vegetação e a fauna natural já não mais existem. O Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás, por exemplo, é uma verdadeira ilha de Cerrado, em meio a um mar de soja. Se a sua fauna for dizimada por grandes incêndios, ele não terá como ser naturalmente repovoado, uma vez que essa fauna já não mais existe nas vizinhanças. Manejar o fogo em unidades de conservação como esta é uma necessidade urgente, sob pena de vermos perdida grande parte de sua biodiversidade.

Poucas são as nossas unidades de conservação, com áreas bem significativas, onde o Cerrado é o bioma dominante. Entre elas podemos mencionar o Parque Nacional das Emas (131.832 ha), o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (84.000 ha), o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (33.000 hs), o Parque Nacional da Serra da Canastra (71.525 ha), o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (60.000 ha), o Parque Nacional de Brasília (28.000 ha). Embora estas áreas possam, à primeira vista, parecer enormes, para a conservação de carnívoros de maior porte, como a onça-pintada e a onça-parda, por exemplo, o ideal seria que elas fossem ainda maiores.

Se considerarmos que cerca de 45% da área do Domínio do Cerrado já foram convertidos em pastagens cultivadas e lavouras diversas, é extremamente urgente que novas unidades de conservação representativas dos cerrados sejam criadas ao longo de toda a extensão deste Domínio, não só em sua área nuclear mas também em seus extremos norte, sul, leste e oeste. A criação de unidades de conservação com áreas menos significativas não deve, todavia, ser menosprezada. Quando adequadamente manejadas, elas também são de enorme importância para a preservação da biodiversidade. Só assim se conseguirá, em tempo, conservar o maior número de espécies de sua rica e variadíssima flora e fauna.

A grande maioria das atuais unidades de conservação, sejam elas federais, estaduais ou municipais, acha-se hoje em uma situação de completo abandono, com sérios problemas fundiários, de demarcação de terras e construção de cercas, de acesso por estrada de rodagem, de comunicação, de gerenciamento, de realização de benfeitorias necessárias, de pessoal em número e qualificação suficientes etc. Quanto ao manejo de sua fauna e flora, então nem se fale. Pouco ou nada se faz para conhecer as populações animais, seu estado sanitário, sua dinâmica etc. Admite-se "a priori" que elas estão bem pelo simples fato de estarem "protegidas" por uma cerca, quando esta existe. Na realidade, isto poderá significar o seu fim. Problemas de consangüinidade, viroses, verminoses, epidemias, poderão estar ocorrendo entre os animais, dizimando-os dramaticamente, e nem se sabe disto. Pesquisas a médio e longo prazo são essenciais para que possamos compreender o que acontece com as populações animais remanescentes nos cerrados. Paralelamente, espécies exóticas de gramíneas, principalmente as de origem africana, como o capim-gordura, o capim-jaraguá, a braquiária, estão invadindo estas unidades de conservação e substituindo rapidamente as espécies nativas do seu riquíssimo estrato herbáceo/subarbustivo. Dentro de alguns anos, ou décadas que seja, estas unidades transformar-se-ão em verdadeiros pastos de gordura, jaraguá ou braquiária e terão perdido, assim, toda a sua enorme riqueza de espécies de outrora.


Area de proteção e preservação

Em sete anos, cerrado perdeu o equivalente a 36,8 mil estádios do tamanho do Pacaembu

Nem os últimos redutos de biodiversidade do cerrado, que já perdeu metade de sua vegetação, resistem aos avanços da produção agropecuária. Um monitoramento por imagens de satélite do desmatamento do bioma, concluído neste ano pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), revela o avanço da devastação por terras indígenas, assentamentos rurais e unidades de conservação sob a responsabilidade da União e dos estados. Em sete anos, essas áreas perderam 7,94 mil km2 de matas nativas, o equivalente a 36,8 mil estádios do tamanho do Pacaembu, em São Paulo. Esse desmatamento representa quase 10% de toda a perda de cerrado entre 2002 e 2008.

Os índices de desmatamento em terras indígenas, assentamentos e unidades de conservação detectados pelo Ibama surpreenderam o Ministério do Meio Ambiente (MMA), que passou a monitorar as perdas de vegetação no cerrado. Antes dos primeiros resultados apresentados pelo instituto, somente a Amazônia era acompanhada pelo MMA, por meio de relatórios periódicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Em território amazônico, o ministério já havia detectado que os assentamentos rurais — sob responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) — figuravam entre os maiores desmatadores do bioma, situação idêntica à do cerrado. O mais grave, porém, foi a constatação de que unidades de conservação administradas pelos governos federal e estaduais apresentam índices elevados de desmatamento.

“Esses dados são preocupantes”, reconhece o diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA, Bráulio Dias. “O monitoramento (do desmatamento do cerrado, feito pelo Ibama) vai permitir uma maior fiscalização. Agora o governo federal tem instrumentos para monitorar e cobrar.” As imagens de satélite mostram uma devastação generalizada em grande parte dos assentamentos rurais, terras indígenas e unidades de conservação.

Somente 6% do bioma cerrado está protegido em parques estaduais e federais e, por isso, os altos índices de desmatamento chamam a atenção do diretor do MMA. As maiores perdas ocorreram em áreas de preservação ambiental (APAs), que são delimitadas por estados ou pela União e que, em princípio, não poderiam ser alteradas. O levantamento (1)do Ibama mostra que esses territórios não estão sendo respeitados.

As maiores perdas ocorreram em unidades de conservação estaduais: foram quase 3,9 mil km2. Depois, os assentamentos rurais foram os maiores desmatadores, com 2,8 mil km2. Unidades de conservação federais e terras indígenas aparecem em seguida (veja quadro).

Desrespeito
A legislação ambiental proíbe qualquer tipo de retirada de vegetação em parques e reservas, mas as imagens de satélite do Ibama evidenciam o desrespeito à lei. Na Floresta Nacional de Brasília, por exemplo, o desmatamento consumiu mais de 9km2, o equivalente a 10% da área da reserva. As APAs do Planalto Central, da Bacia do Rio São Bartolomeu e da Bacia do Rio Descoberto, criadas para preservar o cerrado no Distrito Federal, também estão bastante degradadas. Somente a APA do Planalto Central, que chega ao território goiano, perdeu 61km2.

Grandes parques nacionais perderam matas nativas de cerrado entre 2002 e 2008. É o caso da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso; da Chapada dos Veadeiros, em Goiás; e da Serra da Canastra, em Minas Gerais. O desmatamento registrado nas reservas foi bem inferior ao detectado em APAs e em reservas extrativistas, mas chama a atenção por causa da afronta à lei e às demarcações feitas pela União.

Nos parques estaduais, a situação é semelhante. Uma das mais importantes reservas de cerrado no país, o Parque do Jalapão, em Tocantins, perdeu quase 3km2 de vegetação em sete anos. A devastação foi mais impiedosa dentro do Parque Estadual do Mirador, no Maranhão, e do Parque Estadual da Serra Dourada, em Goiás. O desmatamento nas duas reservas atingiu uma área de 38km2.

Em quase todos os assentamentos rurais monitorados pelo Ibama foi detectado desmatamento do cerrado. Os menores índices foram registrados nas terras indígenas, mas a situação é grave em Mato Grosso e no Maranhão. Os seis maiores desmatamentos em áreas indígenas aconteceram nos dois estados.

Detalhamento
As tabelas com o detalhamento do desmatamento em cada unidade indígena, assentamento e reserva de mata nativa aparecem discretamente nos anexos do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado), atualizado e divulgado pelo MMA em março. Os dados não foram totalizados, o que não dá a dimensão da devastação em áreas, teoricamente, intocadas. A reportagem do Correio fez o somatório das áreas desmatadas e chegou a quase 8 mil quilômetros quadrados perdidos.

Cerrado é o bioma mais ameaçado

O bioma cerrado está em evidência devido à tragédia ambiental constatada por especialistas. Até 2002, a devastação aferida tinha consumido um total de 890 mil km2. Uma nova análise realizada sobre imagens de satélite produzidas pelo Ibama detectou, entre 2002 e 2008, mais 85 mil km2 de desmatamento — o correspondente a quase 15 áreas equivalentes ao tamanho do Distrito Federal (DF).

O cerrado é o bioma mais ameaçado do país. Um terço da madeira fornecida para a produção de carvão no Brasil, por exemplo, vem desse tipo de vegetação. Além disso, quase dois terços da área desmatada se transformaram em pastagens. “O cerrado ainda resiste na parte norte do país. No centro e no sul, não sobrou muita opção”, afirma o diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Bráulio Dias.

O diretor do MMA, entretanto, diz que o desmatamento dentro de parques sob a responsabilidade do governo federal é pequeno se comparado ao detectado em reservas extrativistas e áreas de preservação ambiental (APAs). “Nas APAs é permitido qualquer uso da terra, desde que haja um zoneamento da área. Em poucos casos esse zoneamento é feito”, diz. “Hoje, uma APA e nada é a mesma coisa.”

A União tem responsabilidade também sobre as unidades de conservação estaduais, onde foram registrados os maiores índices de desmatamento do Cerrado. “Falta ao governo federal exercer mais o seu papel de coordenador e fiscalizador dessas unidades”, reconhece.

Além da retirada de matas nativas dentro das unidades de conservação, é comum o desmatamento no entorno de 10km dos parques e nas chamadas áreas prioritárias, definidas pelo governo para facilitar o desenvolvimento de políticas de preservação. “A ocupação da Amazônia empurra o desmatamento para o cerrado”, ressalta o pesquisador Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG). (VS)

Principais tribos indigenas (problemas enfrentados por elas e contribuições)

O bioma Cerrado abriga uma das maiores biodiversidades do mundo. São milhares de espécies da fauna, flora e outros tipos de organismos. Abriga também diversas fitofisionomias diferentes, além de paisagens de grande beleza cênica. Junto a toda esta riqueza, convivem no Cerrado diferentes populações humanas. Algumas destas populações convivem no bioma há centenas de gerações, outras há poucos anos. Algumas conseguem extrair e produzir no Cerrado o suficiente para seu sustento, sem grandes modificações nos ecossistemas; outras vêm causando enormes impactos negativos, muitas vezes através de uma exploração que só almeja o lucro financeiro a curto prazo.

As populações mais antigas do Cerrado são os povos indígenas. São Xavantes, Tapuias, Karajás, Avá-Canoeiros, Krahôs, Xerentes, Xacriabás, e muitos outros que foram dizimados antes mesmo de serem conhecidos. A grande maioria destes povos, assim como todos os povos indígenas brasileiros, foram forçados a fazer migrações constantes, devido ao avanço do colonialismo. Muitos já eram nômades, e exploravam o Cerrado através da caça e da coleta; alguns já praticavam a agricultura de coivara, ou uma agricultura itinerante, de corte e queima e posterior pousio. Muitos deles produzem grande quantidade (e com grande qualidade) de artesanato. Atualmente, a maioria destes povos está confinada em Terras Indígenas, e têm de adaptar seus modos de vida à disponibilidade de recursos, aos conflitos locais e à inclusão social. Já são muitas as organizações indígenas, e elas se fortalecem a cada dia, porém constantemente perdem batalhas para grandes fazendeiros e grandes empreendimentos. Valorizar suas culturas tradicionais, ter plenamente reconhecidos e adquiridos seus direitos e ao mesmo tempo se inserir de forma positiva na sociedade brasileira é atualmente o grande desafio destes povos.

As chamadas populações tradicionais do Cerrado incluem não só os indígenas, mas também povos negros ou miscigenados que, por muito tempo, ficaram em relativo isolamento nas áreas deste bioma, e tiveram que adaptar seus modos de vida aos recursos naturais disponíveis. São quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, sertanejos, ribeirinhos, que aprenderam, ao longo de séculos, a retirar do Cerrado recursos para alimentação, utensílios e artesanato. Hoje grande parte se vê diante de um mundo no qual o conhecimento sobre a convivência com a natureza não é valorizado, e a lógica do trabalho pelo dinheiro predomina.

Nas ultimas décadas, o território ocupado pelo bioma Cerrado tem sofrido uma intensa invasão por populações e atividades até então ausentes. O processo de urbanização, principalmente depois da construção de Brasília, e a produção agropecuária, notadamente após o desenvolvimento de tecnologias de produção em larga escala, vêm transformando rapidamente as paisagens do bioma Cerrado. Não somente as paisagens, mas também os modos de vida de suas populações, os ecossistemas, o regime hídrico. A agricultura intensiva de produção de grãos, os “reflorestamentos” de eucalipto para produção de celulose e carvão, a construção de barragens, os desmatamentos para abastecer de carvão as grandes siderúrgicas, tudo isso vem causando enormes impactos sociais e ambientais nos domínios do Cerrado, no entanto seus benefícios econômicos só se fazem sentir para poucos.

A situação do Cerrado e de suas populações mostra-se, portanto, um grande e complicado conjunto de interações, interesses, desafios e possibilidades. Recusar a lógica da exploração insustentável e do lucro a curto prazo parece ser essencial para a preservação da biodiversidade, dos recursos naturais e da cultura de seus povos tradicionais. Ao mesmo tempo, estabelecer atividades produtivas consistentes, que visem atender prioritariamente ao consumo local, mas também aos mercados nacional e global, sem prejudicar os processos ecológicos naturais, torna-se estratégico para gerar renda e demonstrar a viabilidade do desenvolvimento sustentável no Cerrado. Aliar o conhecimento dos povos que habitam o Cerrado há séculos ao da ciência investigativa voltada para as demandas socioambientais reais sem dúvida representa uma importante ferramenta a ser usada para se atingir estes objetivos.

Uma contribuição fundamental para a percepção dos sentimentos antigos dos povos são os projetos de educação para formação de professores bilíngües. No Tocantins, o Governo do Estado está qualificando professores das escolas nas aldeias, visando ensinar crianças e jovens a escrever e ler na própria língua, possibilitando o resgate da historia oral dos povas indigenas e a valarização de sua cultura e tradição. Já são 61 escolas atendendo 2.269 alunas.

 

Cultura, folclore, culinaria, tabus, lendas e influencias de outros povos desses biomas na cultura brasileira

Cultura

Cultura do Cerrado - Centro-Oeste não é só sertanejo
“Enquanto a cultura do Norte, Nordeste e Sudeste foi bastante divulgada no país, a cultura do Cerrado ainda é pouco conhecida. As pessoas acham que no centro do Brasil só se produz música sertaneja”, avalia Veronica Aldè, musicista e pesquisadora do Instituto Trópico Subúmido (ITS) da Universidade Católica de Goiás (UCB). Além dela, trabalham no instituto mais quatro músicos pesquisadores que investigam as influências indígenas, européias e africanas na cultura do povo do Cerrado. Aldè, que desenvolve projetos com as comunidades indígenas, em especial os Krahô, explica que “cultura, território e conflitos estão relacionados e, ao trabalhar com esses povos, é inevitável pensar sobre o encontro de diferentes culturas e suas conseqüências”.
A Carta Aberta dos Povos Indígenas do Cerrado, assinada por representantes dos Karajá, Krahô, Tapuia, Apinajé e Xavante em 2008, aponta que entre os problemas enfrentados por esses povos estão os posseiros, a deficiência no tratamento de saúde, a devastação no entorno dos territórios indígenas demarcados – devido ao avanço do agronegócio – e a falta de diálogo a respeito do impacto das grandes obras governamentais previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Em seus encontros com os indígenas, a musicista do ITS vivencia a força e resistência desses povos no plano da cultura: “Eles mantêm seus rituais muito fortes, mesmo as aldeias situadas próximas da cidade. É muito emocionante vê-los na natureza e perceber que são suas formas de relação que mantém mais de 320.000 hectares de Cerrado preservado”. O ITS tem auxiliado a comunidade a montar uma espécie de banco sonoro, construir uma memória musical desses povos. “Talvez esse material possa ser usado pelos professores indígenas nas comunidades, como um apoio didático-cultural que a universidade pode oferecer”, avalia Aldè.
Outra forma de divulgação da cultura indígena do Cerrado, da qual Aldè participa, é o grupo musical Sons do Cerrado, que pesquisa sons de comunidades do Cerrado goiano e baiano e recria seus toques e canções regionais numa linguagem contemporânea. Nos espetáculos, destaca-se ainda a participação da atriz Larissa Malty, que representa a Velha do Cerrado. Um personagem arquetípico que quer trazer à tona a identidade das mulheres do Cerrado: benzedeiras, parteiras, índias, matriarcas. Para Aldè, que vive entre os palcos e a universidade, o papel do artista no processo de valorização e proteção das comunidades localizadas no Cerrado brasileiro “é o de uma semente ao vento, que busca sensibilizar e tocar por outros meios a sociedade, diferente de uma palestra, por exemplo”.
As discussões sobre cultura, território e Cerrado não tocam apenas nos povos indígenas. Iara Monteiro Attuch, em seu mestrado na UnB, explorou os conhecimentos de povos tradicionais associados à biodiversidade do Cerrado brasileiro e das relações interculturais que se estabelecem entre seus detentores e a sociedade, fazendo um estudo etnográfico com Dona Flor, uma raizeira e parteira de povoado de Moinho, em Alto Paraíso, no estado de Goiás. Attuch traz à tona como essas comunidades vivem entre estarem sujeitados e resistir – ao avanço da fronteira agrícola; às políticas de turismo dentro e no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros; ao aumento de compras de terras e sua conversão em Reservas Particulares de Proteção Ambiental; além da expansão de pousadas e restaurantes. Para ela, a preservação da cultura e do bioma do Cerrado está associada às iniciativas que forem capazes de abrir caminhos para “ articular o manejo sustentável, a garantia do território, desde a boa qualidade e acesso aos recursos naturais até a proteção dos conhecimentos tradicionais locais, discutida atualmente, em que prevalece a propriedade e uso coletivo da terra”.
Se, por um lado, emergem importantes discussões sobre cultura e cidadania dos povos do Cerrado, também ganha ainda mais força, nos últimos tempos, a aposta de que, pela produção cultural, seja possível gerar novas sensibilidades com relação ao bioma. É acreditando nessa possibilidade que Dércio Marques, violeiro e cantador mineiro, junto com sua irmã, Doroty Marques, vão desenvolver um novo projeto com os Meninos do Cerrado, na Vila São Jorge, também em Alto do Paraíso. “O desafio é fazer com que os meninos criem músicas sem palavras, somente com sons e sentimentos. Queremos despertar nesses meninos a capacidade de ouvir o silêncio e tirar algo dele. O silêncio nosso, dos sons do Cerrado em movimento: das águas, do vento, etc. Empreender uma luta contra a ditadura do som que vivemos hoje”, conta o músico entusiasmado. Poetas, escritores e cientistas alimentam a fala de Dércio Marques sobre o Cerrado, suas potencialidades e fragilidades. Diante de um cenário pouco animador, ele manifesta sua crença na capacidade de tocar as pessoas pela arte, literatura e poesia.
Esse foi o caminho encontrado por Carlos Walter Porto-Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense, para construir sua argumentação em prol de uma política ambiental mais atenta ao bioma, em sua Carta aberta à invisibilidade do Cerrado na política ambiental, endereçada ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc: “Guimarães Rosa, senhor ministro, por sua refinada criatividade e capacidade de escuta, foi capaz de ouvir a cultura desses povos e nos deu uma obra – Grande Sertão: Veredas – que, no próprio título, mostra a profunda compreensão das paisagens dos cerrados, suas enormes e vastas chapadas onde o 'coração vive à larga', como o gado solto, – os Grandes Sertões – e os fundos de vales onde os povos fazem suas ‘agri-culturas', – as Veredas”. Ainda em outro trecho, diz: “Guimarães Rosa foi quem, melhor do que ninguém, soube transcriar a riqueza cultural desses povos, ao afirmar que os gerais são ‘uma caixa d'água' e, com isso, mais do que os cientistas, iluminou a leitura de nossa geografia aos nos fazer ver que os nossos rios nascem nos cerrados – o São Francisco, o Jaguaribe, o Parnaíba, o Tocantins, o Araguaia, o Xingu, o Madeira, os formadores do Paraguai (o Pantanal), o Paranaíba, o Grande, o Rio Doce”.

“Quem se lembra? Quem se esquece?”
Assim como na literatura em prosa, pode-se compreender um pouco mais aquele cenário em versos de quem viveu ali. A certa altura de seu poema “Velho sobrado”, Cora Coralina pergunta: “Quem se lembra? Quem se esquece?”. Um cenário de abandono, silêncio, ausência é povoado com memórias que trazem de volta ao casarão a sociedade goiana, os bailes, os saraus, os espelhos emoldurados, as flores e aromas esquecidos. A poetisa clama em sua escrita-memória por aquele que era considerado o futuro de Goiás, sua cidade natal: “O Passado”. Em outro poema, “Ao Leitor”, Cora explicita ainda mais sua crença nas memórias: “Alguém deve rever, escrever e assinar os autos do Passado/ antes que o Tempo passe tudo a raso./É o que procuro fazer, para a geração nova, sempre/ atenta e enlevada nas estórias, lendas, tradições, sociologia/ e folclore de nossa terra./ Para a gente moça, pois, escrevi este livro de estórias. Sei que serei lida e entendida”. Goiás (antiga Vila Boa dos Remédios), poetisa e memórias se confundem, num trabalho incessante que evoca o poder da palavra contra o esquecimento.
Cora Coralina, junto com outros escritores e intelectuais e a Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat) contribuíram de forma significativa para a “invenção da cidade de Goiás como berço da cultura goiana”. É o que afirma Andréa Ferreira Delgado, no artigo “Goiás: a invenção da cidade ‘Patrimônio da Humanidade'”. Uma invenção feita de palavras e imagens que deram à cidade, também conhecida como Goiás Velho, o status de cidade histórica e turística, merecedora do título concedido em 2001 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Invenção que aparece no poema escrito em 1976 por Carlos Rodrigues de Brandão, que trabalha com antropologia rural e pesquisou manifestações culturais dos povos que vivem no Cerrado, entre elas a Festa do Divino em Pirenópolis:
Há uma Goiás que de seus anos lança editais e faz proclamas de um tempo raro no ouvido atento de qualquer gente que surja, passe. Há uma Goiás que de si mesma conta mais casos que um almanaque Conta e reconta até que a mente guarde para sempre o antigo e o raro.
Com a expressão “a invenção da cidade”, a historiadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), quer chamar atenção para o trabalho de gestão e enquadramento de determinada memória coletiva: “O investimento para solidificar e dotar de duração e estabilidade uma determinada memória, para representar o conjunto da sociedade, configura operações de seleção, organização e uniformização da multiplicidade de significados atribuídos ao passado”, analisa, expressando a imbricada relação entre memória, cultura e política e uma preocupação com a homogeneização cultural. O processo de tombamento de Goiás Velho gerou várias discussões. Não porque o complexo arquitetônico e as belezas naturais não fossem dignas de serem consideradas patrimônio da humanidade, mas pela exclusão de aspectos relacionados ao passado da região e de grupos, culturas e saberes populares (veja texto do antropólogo e diretor do Instituto do Trópico Subúmido da Universidade Católica de Goiás, Altair Sales Barbosa).

Jogo do global e local
Em resposta ao perigo da “globalização cultural” – contra a qual a invenção do passado teria uma papel poderoso –, as memórias são novamente acionadas como meio de fortalecer as identidades locais e garantir a luta contra uma homogeneização cultural. Há uma forte crença na memória popular excluída e em sua expressão pública, como possibilidade de criticar as lógicas das mídias, do Estado excludente, da modernidade urbana. Entretanto, p ensar a cultura como força democratizante não é algo fácil. É o que avaliam Maria Célia Paoli e Marco Antonio de Almeida, da Universidade de São Paulo (USP), em artigo publicado na revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “A aposta na memória, precisa considerar que ela também pode ser o espaço da indiferenciação, de levar a uma extrema privatização da vida através de uma narrativa interna”, alertam.
A intensa investida no resgate das manifestações culturais no Cerrado, e por todo o Brasil, remetem às narrativas de folcloristas e memorialistas da primeira metade do século XX. “As manifestações culturais goianas eram vistas como algo que precisava ser coletado, conhecido, divulgado e preservado, para não correr o risco de desaparecer”, explica Mônica Martins da Silva. A pesquisadora estudou essas narrativas no estado de Goiás em seu doutorado em história, realizado na Universidade de Brasília (UnB), e identificou aspectos como a busca por difundir a existência de uma cultura popular local original, genuína, bem como a localização das origens das manifestações folclóricas na tríade indígena (lenda do boto do Araguaia, do caipora, da catira, do caruru), europeu (cavalhadas, festa do divino, folia de reis) e africano (congadas, moçambiques). Em sua análise, destaca que essas noções de folclore explicitam noções de cultura iluministas e românticas. (Leia os artigos “História, narrativas e representações na escrita do folclore em Goiás” e “Catolicismo popular na escrita do folclore brasileiro”).
Para Suely Rolnik, psicanalista e crítica de arte e cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), vive-se um falso dilema entre a identidade global e a crítica à sua pulverização em identidades regionais e locais, por um lado, ou, por outro, a defesa de identidades locais contra as identidades globais. Ela defende que nesse jogo, “varia a disposição das peças do tabuleiro, mas este não varia: é sempre o mesmo tabuleiro de uma subjetividade que funciona sob o regime identitário e figurativo, que as novas tecnologias da imagem e da comunicação tendem a fortalecer e a sofisticar cada vez mais. Evidentemente, tais tecnologias não trazem esse sentido embutido em sua fabricação, ele é apenas o resultado de seu uso dominante”, analisa. Em seus escritos, traz o esforço de Oswald de Andrade em pensar o peculiar modo de produção da cultura no Brasil: a antropofagia. O princípio antropofágico, para Rolnik, não seria uma imagem que representaria “o brasileiro”, mas antes a possibilidade de “engolir o outro, sobretudo o outro admirado, de forma que partículas do universo desse outro se misturem às que já povoam a subjetividade do antropófago e, na invisível química dessa mistura, se produza uma verdadeira transmutação”.
“Quem se lembra? Quem se esquece?”. Um expressão interrogativa que mais do que convocar pessoas, convoca forças políticas e poéticas que redesenham o Cerrado e suas culturas por entre lembranças e esquecimentos.

 

Folclore

Folclore do cerrado

O Calango Voador é filho da Terra e do Sol, e afilhado do Ar. Todo ano, quando resolve matar sua sede e esfriar a língua, um período de seca acontece e as águas diminuem de volume. Assim nasceu o cerrado e Brasília, na visão popular dos brincantes de Seu Estrelo e Fuá do Terreiro, que se apresentam nesta terça-feira, 9 de setembro, às 12h30, no Restaurante Universitário (RU). O espetáculo é uma preparação para o IV Festival de Brasília de Cultura Popular, que acontece de 11 a 14 de setembro. A apresentação é aberta e gratuita.

Os brincantes Renata Rosa e Filhos de Gandhy também participam da encenação. Ao som de maracatu rural, coco e "samba pisado" - ritmo criado pelo grupo -, os artistas incorporam os personagens Guará, Calango Voador, Caliandra, Elefante da Tromba D'água e Gavião, que povoam o imaginário popular brasiliense.

Embora nova, a história que envolve animais e vegetação típicos do cerrado tem se popularizado e já é considerada manifestação folclórica própria da capital. “Muita gente já reconhece como uma cultura da cidade, e isso é muito importante porque falta aqui essa identidade própria”, avalia o brincante de Seu Estrelo e Fuá do Terreiro, Luiz Felipe Gebrim Alves.

O boneco de oito metros que representa o Calango Voador não será incluído na apresentação de terça-feira. Quem assistir à brincadeira no RU e tiver interesse em ver o gigante, terá que comparecer no dia 12 de setembro, segundo dia do IV Festival de Cultura Popular, na Sala Funarte (Eixo Monumental). “Vamos sair em cortejo, fazendo batuque no Eixo Monumental”, adianta Gebrim.

 

Culinaria

A maior parte do Cerrado brasileiro se encontra em Goiás. Graças à interação centenária da população com a natureza, muitos ingredientes foram descobertos e incorporados à alimentação goiana. A cozinha do Cerrado nasceu da integração dos índios goyases que viviam na região, dos bandeirantes paulistas que por ali passaram na rota do ouro, dos vizinhos mineiros e nordestinos que foram atraídos pela promessa de vida nova após a inauguração da capital federal, e dos descobridores portugueses. Ou seja, a cozinha do Cerrado é marcada pela diversidade, pela miscigenação e pela peculiaridade.

São centenas de pratos típicos da região:  empadão, pamonha goiana (salgada, com queijo ou linguiça), leitão à pururuca, churrasco e os pratos à base do pequi são os mais conhecidos. Os doces, influência portuguesa que sofreu adaptações com as frutas locais, têm nomes como Alfenim e Pastelim (versão com doce de leite do pastel de Belém).

Nada, porém, se compara a uma fruta local - o pequi. Parecidos com pequenos ovos amarelos, as sementes do pequi são usadas em pratos salgados e doces e licores. são muito populares o tradicional arroz de pequi e a galinhada com pequi.

O Cerrado, porém, não é só pequi. Outro ingrediente bastante valorizado pelos goianos é a guariroba. Para quem não conhece, a guariroba parece um palmito acinzentado. À boca, ela se mostra bastante amargo – mas nem por isso desagradável. É preparado com arroz e é um dos ingredientes principais do substancioso empadão goiano, que ainda leva frango, carne de porco, lingüiça e queijo.

O peixe na telha é herança portuguesa. Primeiro prepara-se o peixe em cima de uma telha; em seguida, coloca-se o peixe na grelha para que asse. Costuma ser servido com arroz e molho de cebola.

Já o arroz-de-puta-rica tem esse nome por ser o preferido de uma rica cafetina de Goiás. A fartura é marca registrada do prato: tem frango, bacon, lingüiça, costelinhas de porco e, claro, arroz. Há também uma versão chamada “arroz-de-puta-pobre” que, como sugere o nome, é menos abastada e leva menos ingredientes.

Os mineiros, povo essencial na formação do Estado de Goiás, se fazem notar na cozinha, principalmente em pratos como o arroz de suã e a pamonha, que costuma ser servida em versão salgada entre os goianos. Outros sinais da influência de Minas estão no apreço pela carne de porco e pelo tutu de feijão.

 

Lendas

A lenda do pequi

 

 

O PEQUI é uma espécia arbórea nativa do cerrado brasileiro. Possui uma grande importância econômica reconhecida tanto pelas populações tradicionais quanto pela pesquisa. Existe uma narrativa bastante interessante que conta como surgui o primeiro pequizeiro.
Foi assim...
Conta a lenda que quando o derradeiro quilombo foi encontrado, houve uma enorme matança de crianças, jovens e velhos. Aqueles que conseguiram fugir, foram implacavelmente perseguidos e sumariamente executados.
Naquela noite, somente uma jovem escrava grávida conseguiu furar o cerco, escapando da chacina, tomando rumo ignorado pelo serrado.
Ela andou dias e noites sem comer, sem beber e sem dormir vindo a falecer sob a sombra de uma frondosa árvore de galhos fortes, fartos de folhas, porém estéril.
O corpo esquálido e jazido daquela mulher se decompôs, transformou-se em húmus e sal da terra, fazendo-se fertilidade àquela árvore.
Desde então, flores da cor do sol brotavam naquele tronco robusto, transformando em frutos redondos e verdes, de segurar com as duas mãos. Frutos estes quando partidos, revelava uma polpa amarelo ouro, em forma de embrião, com aroma indizível e inconfundível paladar.
Assim, os nativos do cerrado deram o nome a este fruto de pequi.
Hoje, conhecidos por pequizeiros todas as árvores mães que geram estes frutos em abundância, garantido sustâncias a quem tem fome e sede, descanso a quem tanto trabalha, restaura a virilidade dos homens e dá vida longa às mulheres que um dia deram a luz.

 

 

 

 

Influencias de outros povos desses biomas

(Faltando incluir este ítem)

 

Conclusão

Minha  conclusão e que deveria   haver  mais fiscalização por parte do governo  e dos órgão que são responsáveis por gerenciar o meio ambiente, para que diminua a derrubada da mata nativa para criação de pastos e plantio de soja, pois alem de prejudicar a fauna e flora ainda aumenta a erosão do solo; orientar a população sobre os males que as queimadas causam ao solo; aumentar a fiscalização para impedir a caça e  o aprisionamento de pássaros para venda ilegal em feiras livres pelo Brasil.